martedì 21 ottobre 2008

De Roma a Vila Viçosa com Vítor Serrão

O Professor Vítor Serrão é um dos maiores historiadores de arte portugueses de todos os tempos e um ser humano de excepcionais qualidades: generoso, frontal, entusiasta. Um "mestre", no verdadeiro sentido da palavra.

Das suas muitas vindas a Roma, recordamos aquela que fez em 2002 como comissário da exposição "Rosso e Oro - Tesori d'Arte del Barocco Portoghese", patente nos Musei Capitolini de 19 de Abril a 30 de Junho, e cujo belíssimo catálogo foi publicado pela Electa.

Esta é ainda uma boa oportunidade para saudarmos o eminente Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, distinguido a 10 de Junho de 2008 com o Grau de Comendador da Ordem de Sant'Iago da Espada pelo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva na sessão solene das comemorações do Dia de Portugal em Viana do Castelo.

Chegou à Via dei Portoghesi notícia de uma das suas muitas e interessantes iniciativas: desta feita a participação nos "Sábados no Paço" de Vila Viçosa, com uma visita guiada intitulada “O Fresco Maneirista no Paço Ducal de Vila Viçosa” - de que publicamos em baixo o texto de apresentação.

Um abraço com saudades e a grande vontade de irmos até Vila Viçosa, para ouvir o Mestre Vítor Serrão.


Sábados no Paço (Vila Viçosa)
Divulgação dos “Sábados no Paço”, promovidos pela Fundação da Casa de Bragança.
No dia 25 de Outubro, será efectuada uma visita guiada subordinada ao tema “O Fresco Maneirista no Paço Ducal de Vila Viçosa”, pelo Prof. Dr. Vítor Serrão, do Instituto de História de Arte da Universidade de Lisboa. Esta iniciativa irá permitir um olhar mais detalhado sobre as pinturas a fresco do Paço Ducal de Vila Viçosa, nomeadamente no que concerne à sua temática e autoria, também como consequência da edição do livro “O Fresco Maneirista doPaço Ducal de Vila Viçosa, 1540-1640”. A visita será gratuita e terá início às 10 horas, com uma apresentação inicial na Igreja das Chagas, junto ao Paço Ducal.
Para marcação e demais informações p.f. contacte:telefone 268 980 659 ou email -
palacio.vilavicosa@mail.telepac.pt


ESCADARIA DO PAÇO. No grande fresco tripartido que orna a Escadaria nobre do Palácio admira-se a Tomada da praça de Azamor, em 1513, pelo exército do Duque de Bragança D. Jaime. Data de cerca de 1600 e é obra da autoria de ANDRÉ PERES (pintor privativo e escudeiro do Duque D. Teodósio II entre 1595 e 1630) e colaboradores. Pintura de avantajada cenografia maneirista, integra-se no gosto das representações de batalhas que pelos mesmos anos se pintaram no Salon de los Reinos do Mosteiro do Escurial e em palácios como o de Guadalajara, com evidente sentido de glorificação dos sucessos militares da Casa de Bragança.

SALA DE MEDUSA. Este notável espaço palaciano das «casas novas» é decorado a fresco com cenas dos Feitos de Perseu, o herói ovidiano das Metamorfoses, montado no cavalo alado Perseu, ora a libertar Andrómeda, a petrificar o rei Atlas e a matar o pretendente Fineu. Trata-se de uma encomenda feita em 1602 pelo Duque D. Teodósio II ao pintor lisboeta TOMÁS LUÍS, que decorou a sala com as «histórias» mitológicas em causa, dentro de um forte sentido da cenografia maneirista e com recurso ao grotesco romano e às alusões à Musica, uma das artes cultivadas na corte dos Braganças. O pintor inspirou-se em gravuras lionesas de 1563 e 1575.

GALLERIETTA DE D. ANA DE VELASCO. Restrito espaço privado junto à Sala de Medusa, foi pintado em 1602 por TOMÁS LUÍS com requintada gramática de grotesco clássico e quadri riportati alusivos. Serviu de câmara a D. Ana de Velasco e Girón, a malograda esposa do 7º Duque D. Teodósio II, com quem casou em 1603. Pelo seu requinte, evoca os gabinetes aristocráticos de Florença, Roma e Milão no seu gosto decorativo all’antico.

SALA DE DAVID E DO GIGANTE GOLIAS. O tecto desta sala das «casas novas», pintado cerca de 1603 (atribuível a Tomás Luís ? e André Peres ?), muito refeito nos anos de 1949-50, representa a história de David a derrotar o gigante Golias (seguindo modelos de gravuras de Philippe Galle de um livro de Árias Montano, 1575), e uma sanca de grotesco, com cenas mitológicas e dois enigmáticos retratos. Pode tratar-se do retrato do duque de Parma D. Rainúcio (sobrinho da duquesa D. Catarina, cuja comitiva visitou Vila Viçosa) e seu pai Alessandro Farnese; outra hipótese será tratar-se de D. João e D. Teodósio II, 6º e 7º Duques de Bragança e responsáveis pelo corpo palaciano das «casas novas».

ORATÓRIO DE D. CATARINA DE BRAGANÇA. Este magnífico espaço decorado em 1602 por TOMÁS LUÍS representa as Santas Catarina e Apolónia, entre requintados motivos de grotesco romano (fábulas, mascarões, fruteiros, figuras híbridas, candelabra, etc) e os enigmas em filacteras associados a raposas ASI O CREO, MAIS VAL€ SABER QUE FERMOSURA, e A MIM MESMO, considerados as divisas de D. Catarina de Bragança, alusões à Fama, Modéstia, Sabedoria e Humildade, empresas da pretendente ao trono, mãe de D. Teodósio II e avó de D. João IV. No claustro do Mosteiro das Chagas, a Capelinha de São João Evangelista (recém-restaurada) foi alvo de revestimento a fresco, também por Tomás Luís, com uma decoração muito similar a esta.

ANTIGO ORATÓRIO DE D. TEODÓSIO I. Só em data recente se restaurou este antigo oratório do 5º Duque D. Teodósio I, que estava totalmente repintado e se revela um espaço muito interessante de decoração maneirista integral. É obra do arquitecto Nicolau de Frias. Tem fina decoração de estuques maneiristas e duas campanhas de pintura mural: uma ainda de c. 1560, de FRANCISCO DE CAMPOS (pintor daquele Duque, autor também de frescos de 1578 no Paço dos Condes de Basto, Évora), a outra de c. 1585, da autoria de GIRALDO FERNANDES DE PRADO, que foi cavaleiro, pintor, iluminador e calígrafo de D. Teodósio II. Além de cenas da Paixão de Cristo (mutiladas com a abertura da janela) e dos faunos e motivos de grotesco em grisalha, destacam-se alegorias à Fé e à Temperança (a partir de gravuras de Jerónimo Wierix).

CAPELA DO CALVÁRIO. Situada na Horta do Palácio, esta Capela de planta centralizada de fins do século XVI (obra do arquitecto Pero Vaz Pereira) é decorada nos caixotões pétreos da cúpula hemisférica com estuques e esgrafitos com tondi e anjos segurando símbolos da Paixão, atribuídos a desenho de GIRALDO FERNANDES DE PRADO, pintor da casa ducal.

Vítor Serrão

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