venerdì 27 novembre 2009

"A Canção de Lisboa" por Germana Lardone


Mais um comentário ao filme "A Canção de Lisboa" pela nossa aluna Germana Lardone, a quem muito agradecemos as repetidas e qualificadas intervenções no nosso blog.


O filme “Canção de Lisboa” está cheio de trocadilhos. Por exemplo, na cena da chamada para o exame, o Professor chama “- Valente!”, e ele responde “- Valente sou eu”, jogando com o significado da palavra (que não tem medo). Na mesma cena, um estudante mulato chama-se Teófilo das Neves Claro e diz “Vou para o exame completamente em branco” (não sabe nada), ao que Vasco lhe responde ”estou a ver coisas muito negras” (prevê que será chumbado).
Teófilo invoca a protecção de S. Francisco Xavier e Vasco invoca a de “S. Francisco Gentil”. Na verdade, Francisco Gentil foi médico e professor (1878-1964) pioneiro no tratamento do cancro. Foi responsável pelas reformas no ensino médico e criou hospitais universitários.

Outra cena interessante é a da discussão de Vasco com Alice, a sua namorada. Ela diz que ele não lhe deve repetir que é a sua única paixão e que “tem o destino marcado desde a hora em que me viu” (palavras do famoso Novo Fado da Severa), ao que Vasco responde: “Ó filha, não sejas Severa!” aproveitando o significado da palavra severa (austera, rigorosa, rígida, inflexível).
Maria Severa Onofriana (Lisboa 1820- 1846), cigana e prostituta, foi a primeira cantadeira de fado de que se tem conhecimento; cantava e tocava a guitarra nas ruas da Mouraria; levou o fado para as rua aonde existia somente dentro das tabernas. Era amante do conde de Vimioso e o romance entre eles è tema de vários fados.

1933, o ano em que se estreou o filme Canção de Lisboa é também o ano da instauração do regime ditatorial de António de Oliveira Salazar. Estado Novo é o nome deste regime que durou 41 anos quando foi derrubado pela Revolução do 25 de Abril. Esta designação oficiosa foi criada por razões ideológicas e propagandísticas por marcar a entrada numa nova era.
A cena na loja do alfaiate, com Vasco disfarçado de manequim é muito engraçada sobre todo pelo trocadilho do cartaz (Ocasião – 95.00 - Estado Novo).
São também cheias de significado as frases do alfaiate. Na minha casa há de tudo – Na minha casa não quero barulho – Muito prazer de receber em minha casa – Faço tudo desinteressadamente - … e outras, claras alusões ao carácter nacionalista, conservador, corporativista etc., semelhante aos regimes autoritários do mesmo período (Mussolini, Franco, Hitler, Peron ).
Muito divertida a cena com a chegada do rato, pequeno mas bastante para baralhar a ordem da loja e o cartaz “Estado Novo” pendurado nas costas de D. Jacinta.

A minha pergunta é: Como é que a censura não se apercebeu de nada?

GERMANA LARDONE

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