venerdì 30 aprile 2010

"Naquela noite a Isabella sonhou" de Stefano Valente

Isabella post-Brasil

Escreveu-nos o nosso aluno e colaborador assíduo deste blog, Stefano Valente: "Só uma brincadeira… Na espera por uma amiga e uma grande cantora. Volta depressa, Isabella!". Aqui publicamos o texto, queagradecemos, e saudamos os nossos alunos...


Naquela noite a Isabella sonhou.


Sonhou com o seu regresso para Itália.
De repente, assim como acontece nos sonhos, ela teve a consciência de ter regressado a Roma, mesmo à via dei Portoghesi, até ao Instituto em que estudava português, e naquela tarde tinha lição – ela tinha esta certeza –, pois era quinta-feira, porque aquele era um sonho feito daquela maneira, um sonho em que todos os dias da semana eram quintas, e em que a cada dia havia aula de língua portuguesa…
Então, entrando na escuridão do corredor do Instituto de Santo António, a Isabela pensou: Tem lição… A gente vai – todo o mundo vai…
E já havia algo naquele pensamento, algo que… lhe soava estranho, diferente – porém não conseguia perceber a razão daquela estranheza.
Agora a Isabella estava no limiar da sala de aulas. A porta estava fechada. Ouvia umas vozes vindas do interior.
O coração batia-lhe com força enquanto rodava o puxador. Enfim ganhou coragem e abriu.

Esfregou os olhos. Arregalou-os. Voltou a esfregá-los. Escancarou-os outra vez…
Nada. A cena não mudava.
Todos os alunos (os seus colegas dum tempo do qual mal se conseguia lembrar, tanto lhe parecia longínquo), todos os alunos, sentados nas cadeirinhas vermelhas, ao vê-la chegar, levantaram-se, e foram-lhe pertinho, e não deixavam de a abraçar e de lhe falar… mas tudo o que a Isabela era capaz de perceber era apenas um ch-ch-ch, um murmúrio grave, incompreensível!

No entanto que começava a estremecer, aproximaram-se-lhe a Vilma, o Cristiano e a Germana. Eram vestidos como os três pastorinhos de Fátima. Gritavam e faziam-lhe festas. Por meio duma enorme colher de madeira e de um balde, o Cristiano continuava a oferecer-lhe leite de cabra: «Aproveita!», insistia, «Acaba de ser mungido!».

A Isabella tentou várias vezes recusar, e afastar-se, e até fugir. Porém – além de ter pernas de mármore –, nem sequer lhe vinha de pronunciar uma só palavra que não fosse Reaumêntchi, ou Geraumêntchi, ou Puxa vida!...
Mas o pior era que lhe era impossível tratar os outros com tu.

O pesadelo felizmente terminou quando o professor – a quem todos chamavam Dom Francisco –, ataviado como o Infante Dom Henrique (com chapéu com faixa e tudo – também com sextante e portulanos e Os Lusíadas debaixo do braço), começou a falar-lhe em perfeito português quinhentista, e perguntou-lhe dum certo Cabral, ou talvez do patrão das cabras dos pastorinhos, quem sabe…

O que ela compreendeu claramente, nas gargalhadas de Dom Francisco, foi apenas:
«Bem-vinda Isa-oba!»
STEFANO VALENTE

2 commenti:

Coisaspequenas ha detto...

Obrigada, Stefano! Que eu saiba, é a primera vez que alguém escreve um conto sobre mim!
Será que enfim vai ser possível que eu mesma escreva um chamado “Uma noite Isabella... VOLTOU”?
Estou ainda no Brasil, meus amigos, a partida foi adiada duas vezes... útima data marcada: este sábado!
Apesar de ser uma experiência maravilhosa, sinto saudades da minha terra e das pessoas que amo. Fui até num restaurante português para comer pastéis de bacalhau e pastéis de Belém (e não falo de Belém no Pará...)!
Talvez vocês também queiram me encontrar novamente, mas duma coisa não duvido: nunca irão me perguntar “Isa,tudo jóia? Então, cadê você? Volte pra casa!”
Até breve, espero!
Isabella

Stefano Valente ha detto...

Muito contente que gostaste, Isabella!
Ma era apenas uma brincadeira!
Porém... ainda estou - estamos - a esperar um teu fado!
Até breve, com saudade,
Stefano

P.S.
Não percas o teu magnífico "a abafado" :)