martedì 23 novembre 2010

Alessandra Bucci Vafiadis - tese sobre José Tolentino de Mendonça


A nossa aluna Alessandra Patrizia Bucci Vafiadis defendeu ontem, na Facoltà di Lettere e Filosofia dell'Università degli Studi di Roma Tre, a sua tese de Licenciatura, sobre o interessante tema da tradução poética aplicada a um dos mais singulares casos da poesia portuguesa de Hoje: José Tolentino de Mendonça.

A tese, intitulada «JOSÉ TOLENTINO DE MENDONÇA: "PROCURAR UMA SÍLABA". IL RUOLO MUTEVOLE DELLE PAROLE.», depois de uma introdução teórica acerca da tradução deste género literário, debruçava-se sobre a figura do Poeta português e, mediante uma subdivisão em três núcleos temáticos, dedicava-se à tradução e breve análise de algumas poesias inéditas em Italiano.

Inédita era também uma muito interessante entrevista que José Tolentino de Mendonça concedeu a Alessandra Vafiadis, e que aqui publicamos, dando os parabéns à agora Drª Alessandra e saudando cordialmente o Poeta de O Viajante Sem Sono.

12 DOMANDE A J.T.M.

Como nasce a poesia de José Tolentino de Mendonça?
A origem da poesia é um enigma. Ainda hoje não conseguimos decifrar por que razão inventaram os homens esta forma de linguagem. Talvez tenha nascido próxima dos cantos religiosos ou dos sortilégios mágicos. Não se sabe ao certo. A sua sonoridade recorda o sopro do vento nos bosques, o rumor da chuva, o bater das ondas, o trânsito secreto de certos animais. Mas recorda também o silêncio do olhar humano, a música do seu riso, a prece das suas lágrimas...
O enigma que é explicar a poesia em si, não se desfaz quando se trata de dizer o modo como ela irrompe numa vida. Também eu, portanto, não sei dizer como é que a poesia nasce. Sei, no entanto, que ela tem sido uma experiência determinante na minha existência.

“Correntes marítimas em vez de correntes literárias”. Poderemos, porém, identificar algumas linhas de força que desenhem o seu percurso e a sua produção poética?
Os críticos explicarão melhor essas linhas de força. Eu chego a elas de olhos vendados, por intuição. Como dizia Sophia de Mello Breyner Andresen, «o poema não se explica. O poema implica».

A viagem ao interior da palavra e da linguagem é inseparável da busca da raiz do próprio ser?
Essa é a minha profissão de fé.

Pode falar-se, na sua vida, de uma educação poética?
Sim, se aceitarmos a sugestão do maravilhoso título de João Cabral de Melo Neto: “Educação pela pedra”. Li a Bíblia, li os gregos (tanto a lírica como o teatro), li os místicos com dedicação, li contemporâneos meus de várias proveniências. Mas a educação em vista do poema, onde a colhi? Em cada pedra, em cada punhal, em cada pétala.

Quais são as suas leituras?
Sou um leitor omnívoro. Leio sobre cinema e sobre traduções bíblicas medievais; anoto autores espirituais e homens de ciência; debruço-me sobre gramáticas e ensaios; observo livros técnicos e romances. E quando encontro um grande livro sei que não fui eu que o escolhi, mas prefiro pensar que fui por ele escolhido.

O que é que caracteriza a sua memória de infância? Em que modos nascer na Madeira influencia o Poeta?
Hoje tenho a impressão que caminhei a infância inteira por baldios. Fecho os olhos e vejo o mar e os campos, a solidão das encostas de certos montes, a cumplicidade da vegetação, o silêncio extremo que têm as ilhas...

Qual é, na sua obra, aquele que considera o traço mais forte da sua permanência em Itália?
Acho que a minha poesia ganhou uma força visual com a permanência em Itália. Ainda hoje trago na cabeça milhares de imagens... Imagens para revisitar a vida inteira.

Dia e Noite. Qual é o momento que privilegia para a produção de um poema?
Só e sempre a noite.

A noite, o silêncio, o mistério - são imagens muito frequentes da Sua poesia. Quer falar sobre as suas relações?
Sem o silêncio não existiria a palavra, aquela poética pelo menos. Um poeta é uma consequência do silêncio.

Qual é a viagem do viajante sem sono, e porque é que o viajante é insone?
A grande viagem é aquela interior. O viajante é insone, porque mesmo quando estamos quietos a deambulação continua. E mesmo quando dormimos, continuamos a caminhar nos nossos sonhos.

Além de ser poeta, é também tradutor. Quer falar um pouco da sua experiência com a tradução?
Traduzir é para mim a melhor forma de ler. Não sou um tradutor de ofício, mas de paixão. Tudo o que traduzi são escolhas minhas, pessoalíssimas.

Porquê traduzir? O que representa? Há um significado particular a escolha do texto “ Cântico dos Cânticos” como primeira tradução?
O Cântico dos Cânticos é o mais belo poema que se escreveu. São Tomás de Aquino, ao morrer, pediu que lhe lessem o Cântico. Eu gostava de partir assim.

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