lunedì 18 aprile 2011

STEFANO VALENTE: Museu-Utopia


Ao desafio de escreverem sobre “um museu ideal” responderam alguns alunos, cujas composições aqui se publicam...


Museu-Utopia

Acho que não existe um museu ideal. Ou melhor: poderia haver, isto sim, apenas na utopia de alguém. Falarei, portanto, na minha pequeníssima utopia. Antes de mais, o que é uma utopia, qual é a definição desta palavra?


No Dicionário Priberam da Língua Portuguesa lê-se: “País imaginário em que tudo está organizado de uma forma superior”, mas também “Sistema ou plano que parece irrealizável” e, em último, mesmo “Fantasia”.


O meu museu ideal é mais modesto, de qualquer maneira, que a ilha-reino imaginada por Tomás More em 1516 (na sua obra mais conhecida, intitulada exactamente Utopia, e da qual o termo acabou por entrar em muitos idiomas). Nem estou a sonhar com um estado ou com uma nação, e nem sequer com uma cidade modelo de perfeição. Só penso numa vila, ou mesmo numa aldeia minúscula. Seriam os lugares ideais – julgo – em que a memória poderia obter finalmente o espaço que merece. Tentem representar-se isto: palácios históricos, igrejas, casas com mais ou menos séculos, ruas e praças e jardins; e monumentos, pinturas, estátuas, ou até simples fragmentos de qualquer artefacto; e as colecções de livros, minerais, borboletas, selos e sei lá que mais... E os idosos habitantes dessa aldeia que nos acompanham de local em local, mostrando, contando, “Eis aqui, o quarto e a cama onde nasci”, “Pegue nisto, senhor, é um pedacinho do arado com que o meu avô lavrava o campo”, “Essa lá acima, perto do crucifixo, é a Nossa Senhora das Dores – fez muitos milagres, c... e agora conto-vos a graça que recebeu o Zé de volta do Ultramar, que tinha voltado com um pé gangrenoso e...”.


Memória viva. Recordações e lembranças a andar ao nosso lado, a trazer-nos pela mão para que revivamos as experiências grandes e mínimas de todo o homem, de toda a mulher, de toda a criança. Nada que pertença à humanidade tem de findar, merece desaparecer no silêncio do esquecimento. Mais do que espantosas reconstruções virtuais ou imensas galerias de obras-primas é isto o que eu escolhi. O meu museu ideal é o olhar aquoso de um velho, a narração um bocado trémula dele...

STEFANO VALENTE

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