lunedì 12 dicembre 2011

Fado, património imaterial da Humanidade: Maria Serena Felici


Alguns alunos de Português enviaram-nos os seus textos comemorativos da grande alegria que foi, para Portugueses e Lusófilos, a atribuição ao Fado pela UNESCO, no passado dia 27 de Novembro, da categoria de Património Imaterial da Humanidade.
http://www.publico.pt/Cultura/o-fado-ja-e-patrimonio-mundial-1522758

Muito obrigado, Maria Serena!




O FADO, ARTE PORTUGUESA

Pois é: o fado faz-nos sentir a todos um pouco portugueses. Mesmo a quem o escuta pela primeira vez e não sabe nada de Portugal. Agora mesmo, enquanto escrevo, aqui no meu quarto toca “Fado, meu fado”, e a estupenda voz de Mariza e aquele mágico som de guitarra parecem querer formar em eco no meu corpo. A guitarra portuguesa deixa vibrações que dão a sensação de sacudir o ar; tem aquela gota de tristeza até quando a música não é triste, mas não é, como muitos pensam, uma tristeza lastimosa, e sim um estado da alma que não quer passar, que não tem uma causa específica; é uma tristeza meiga, consciente, de quem sonha, imagina, divaga e deseja algo que não tem mas não deixa por isto de valorizar o que tem, como a pátria: daqui o grande valor que praticamente todos os fadistas dão ao sentimento de se sentir povo, parte duma grande história, que é um sentimento dinâmico e activo ao mesmo tempo que romântico.


Mas agora queria me concentrar num aspecto do fado que tomo especialmente a peito: ele é uma música nacional, em todo o mundo conhecida ao menos pelo nome (alguns italianos que não sabiam absolutamente nada de Portugal, um dia perguntaram-me se o hino nacional português é um fado), e é de origem popular. Bem, isso não seria uma novidade pois praticamente todos os países do mundo têm uma música tradicional de origem popular; mas a origem do fado é diferente. O povo que cantava o fado nas últimas décadas do século XVIII e as primeiras do XIX não era o das aldeias, pobre mas apesar de tudo feliz, camponeses que pudessem gozar duma alegria simples; o povo que cantava o fado era o que se reunia nas tabernas lisboetas à noite, composto por desempregados e prostitutas, o povo dos rejeitados pela sociedade. Acho que disto deriva inclusive o seu nome: fado é sinónimo de destino, mas num sentido ainda mais místico, e tem a mesma raiz de fatalidade. O fado desse povo é justamente o seu destino de marginalizados a que a injustiça da sociedade os condenou. Eles cantavam nas tabernas as suas canções tristes, e esse era o único momento em que podiam exprimir toda a angústia de viver uma vida que apenas lhes proporcionava sofrimento.


Não é por acaso que as primeiras fadistas foram mulheres, e mais, prostitutas, e o fadista homem era o que ia com elas: isto é, a verdadeira margem da sociedade. Foi nessa época que as tabernas-bordéis em que se cantava o fado começaram a ser chamadas casas de fado; a palavra ainda não designava o canto, tal como o seu derivado, fadista, não designava a cantora: a casa do fado era simplesmente um lugar de perdição, onde o Fado como destino se revelava na sua forma mais cruel, e a fadista era uma mulher cujo Fado era de ser uma alma perdida. Esta condição de vítimas dum poder superior era o tema dos poemas que as prostitutas cantavam, e isto fez com que, ao longo dos anos, a canção passasse a ter o nome com que é conhecida hoje em dia.


Mais tarde o fado adquiriu conotações novas, fruto dos períodos históricos que se sucederam; mas também quando entrou nos costumes das camadas mais altas da população portuguesa, manteve esse sentido de tristeza que provém da sua origem de canto-desafogo-resgate dos que tinham perdido tudo. Acho maravilhosa esta “fatalidade”, e o termo não é casual: aqueles ricos bem-pensantes acabaram por assimilar, se bem que gradualmente e inconscientemente, um tipo de música que provinha exactamente daqueles desventurados que eles rejeitavam. É o Fado.

Nessun commento: