venerdì 15 aprile 2016

Christine Vitali: AMOR E CULTURA VENCEM SOBRE A BARBÁRIE E A IGNORÂNCIA



Belíssimo texto da nossa aluna CHRISTINE VITALI, que nos conta da sua Páscoa passada em Bruxelas, com a ferida ainda muito aberta dos ataques terroristas. 
Obrigado, Christine, pelo que nos transmites nestas linhas, num português perfeito!



PÁSCOA 2016 EM BRUXELAS

Como é habitual, ouço o noticiário quando acordo. Na terça-feira 22 de março, uma notícia  chamou a minha atenção:
Duas explosões no aeroporto de Bruxelas e uma no metro no centro cidade entre as 8 e as 9 horas da manhã.

O pânico enche o meu coração e a minha mente de mãe, porque a minha filha vive em Bruxelas desde outubro de 2015. Sei que entre as horas 8 e 9, ela vai para o trabalho. Mas onde é exatamente o seu trabalho ? E como vai ? De metro, de autocarro ou de elétrico ? Ela já mudou  várias vezes de alojamento e não me lembro onde mora agora, nem conheço o seu itinerário  diário  para ir para o trabalho. Ela será poupada de atentados como a sua irmã, em Paris, em novembro de 2015 ? E se o aeroporto de Bruxelas não funciona, como chegar lá para passar a Páscoa com ela e a familia na capital da Bélgica, como programado há algum tempo ?

Somente depois duma chamada breve consigo  relaxar. A minha filha esta já  no escritório. Lá soube dos atentados e responde às chamadas da família  e dos amigos preocupados. Por este acontecimento, não se consegue concentrar nas suas obrigações. Alguns colegas apanharam o metro e por sorte estão bem.

Choro. Choro com alívio  e raiva. Que vida é ? Agora o terrorismo tem de integrar o nosso quotidiano? Paris há 4 meses, agora Bruxelas…. O próximo atentado será em Londres onde mora o meu filho ? Ou em Roma onde vivo ? Dezenas, centenas de mortos e feridos, porquê ? Em nome de quem ? É possível tanta cega violência e devastação ? Os Homens nunca aprendem ?

Então após  esta tragédia, e apesar do fecho do aeroporto principal e do cancelamento forçado do meu voo reservado desde fevereiro, resolvo viajar para Bélgica com outra companhia aérea e para outro aeroporto. Os outros filhos chegam também , um de autocarro de Londres e uma com a sua familia (e a sua barriga – está grávida  de 7 meses) de comboio de Paris. Na sexta-feira (25 de março), estamos todos juntos, vivos e felizes. No sábado , esperamos os meus sobrinhos de Pisa mas nunca vieram: a mãe deles teve medo.

Os dias depois de ataques são os melhores para viajar: altíssima  segurança e lugares no avião pelas anulações de última a hora. Além disso, temos de testemunhar a nossa solidariedade com os habitantes feridos no corpo e na mente. Assim, a nossa presença ajuda a economia, fortemente penalizada pelos atentados. Ainda mas, acho que a  liberdade  de viajar é  mais forte do que o medo.

A cidade de Bruxelas (ou seja as cidades, porque há varias câmaras como Molenbeek ou Schaerbeek) está como em letargo. Pouca gente e muita polícia, soldados e militares. Redução das linhas de elétrico e de metro. Controles em frente de cada entrada publica. Que pena que seja mais tarde …

O clima é típico  do Mar do Norte na primavera: vento frio, chuva e não chuva, sol e não sol, mar de nuvens no céu azul. Andamos muito a pé porque o metro tem tantas paragens fechadas. Encontramo-nos com uns meus colegas da escola que moram em Bruxelas. Passeamos na área dos emigrantes portugueses. Descobrimos a cidade e visitamos muitos lugares  e museus bonitos. Comemos em vários restaurantes: comida vietnamita, libanesa, espanhola, belga.  Provamos chocolate belga. Bebemos cerveja. Tiramos fotos. Ficamos contentes de estar juntos.

Naturalmente vamos também  a Praça da Bolsa para homenagear as vítimas. As flores e as velas formam um alegre tapete de cores  sob o sol. Algumas pessoas - de todas as origens - rezam, uns ajoelham-se ou choram. Há mensagens de paz e de tolerância em todas as línguas  Bruxelas torna-se o centro do mondo civilizado.

Assim foi uma Páscoa feliz, porque : AMOR E CULTURA VENCEM SOBRE BARBARIA E IGNORÂNCIA.

P.S. A policia belga controlou o autocarro do meu filho para Londres, antes da partida : encontrou dois imigrantes no compartimento das malas…

CHRISTINE VITALI

2 commenti:

angela ha detto...

Christine vocé è uma pessoa muito especial e eu queria conhecê-lhe um dia.
Sinto los mesmos sentimentos e credo que a nossa libertade è importante para nos e para nossos filhos. O medo não importa porque nos somos cidadãos do mundo.
É por isso que eu quero viver.

epizefiria ha detto...

Obrigada pelo teu testumunho Christine!